sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Nossos amigos trabalham na guerra contra as drogas no Rio de Janeiro

"Importada dos Estados Unidos, cachorra Brita ajuda polícia a descobrir drogas e armas no Rio de Janeiro"


Quando Brita passa, os vira-latas logo começam a uivar.
Nos becos e vielas do Complexo do Alemão, a cadela da raça pastor belga, bem tratada e de pelos brilhantes, chama a atenção dos cachorros que costumam viver sem dono na comunidade da Alvorada, reduto dos líderes do Comando Vermelho (CV) na zona norte do Rio de Janeiro, retomado dos traficantes pelas forças oficiais desde domingo (28).

Mas não são apenas os cães sem raça que param para ver a cachorra trabalhar. Quando Brita circula pelas vielas, farejando a entrada das residências, os moradores param para ver, sempre desconfiados. Inocentes ou criminosos, todos sabem que, por onde ela passa, não adianta esconder nada.

Nesta semana, Brita já estourou um paiol do tráfico, descobriu 15 fuzis dentro de uma tubulação de esgoto e ajudou os policiais a encontrar uma grande quantia drogas, como conta o major Vitor Valle, um dos responsáveis por comandar os 15 animais que formam o pelotão de faro da PM. “Ela é a melhor que temos”, resume.

Brita é treinada para encontrar armas, entorpecentes e explosivos. Para ela, todos esses artefatos são brinquedos. Nas aulas que recebe, ela é condicionada a sempre buscar bolas ou embalagens com pólvora, cocaína, maconha e outras substâncias. “Pode estar enterrado, embalado, dentro do concreto, ela acha”, diz o policial. “Quando encontra, ela senta ou deita. E não sai de perto do local nem puxando a coleira com força”.

Dia de cão

A reportagem do UOL Notícias acompanhou nesta sexta-feira (3) a ação de 10 homens que vasculhavam a Alvorada, tentando confirmar uma denúncia anônima de que fuzis estariam escondidos em uma laje na chamada Nova Brasília. “Primeiro, pedimos autorização. Depois, entra um homem para verificar a situação. Por fim, deixamos ela farejar.”
Cachorra Brita bebe água durante pausa no trabalho.
Em um barraco todo revirado, com roupas jogadas no chão, papéis rasgados, móveis arrombados e fezes, Brita não dá sossego. Vai de canto para outro, enfia o focinho em frestas na parede, sobe e desce escadas e, ao final da vistoria, acha uma pequena quantia de maconha. “Ela é essencial nessa fase em que precisamos vasculhar casa por casa. O grosso das apreensões foram feitas, mas temos que atuar nesse serviço de formiguinha para conseguir achar mais coisa escondida”, diz o major.

Com três anos e meio, ela veio dos Estados Unidos para compor o canil de 71 cães da PM fluminense. A Companhia de Cães do Rio é tida como uma das únicas do mundo com doutrina para operações intensas de invasão de favelas, onde tiroteios são uma frequentes. “Ela é treinada para ter explosão, já que nossas movimentações são feitas sempre em avanços em etapas. Paramos, avaliamos, e seguimos correndo, para não levar tiro vindo de traficantes no alto das favelas”, conta o major. “Além disso, o preparo físico dela é forte. Não temos hora para parar.

”Brita trabalha dia e noite. E não se alimenta durante o serviço. Apenas um compartimento de lona, carregado pelos homens que a acompanham, é abastecido de água a cada uma hora, em um ritual metódico que garante que ela tenha consciência de que sempre será hidratada – assim, não precisa se preocupar enquanto está buscando entorpecentes. “Trazemos a água só para ela. Ela não come ou toma nada que esteja no chão. É um risco se contaminar”, afirma.

Apesar do assédio dos vira-latas, o major explica que Brita não trabalha quando está no cio. “Seria um problema nessas comunidades cheias de cachorro.”

Fonte: Arthur Guimarães, no Rio de Janeiro
Especial para o UOL Notícias

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